Dia desses, domingão de sol, tomei uma dura de uma amiga por andar “sumida”. A reclamação é até justificada, já que faz tempo que não vejo os amigos. Mas tenho razão para isso. Casamento, família, trabalho — muito trabalho. Essas questões, porém, são muito variáveis por serem pessoais. O que me levou a escrever foi uma frase em especial dessa amiga:
– Pô, você trabalha 24 horas por dia?
Isso me deu um clique. Lembrei que a maioria das pessoas está acostumada aos seres que trabalham das 9h às 18h, com horário de almoço, fins de semana livres e tudo mais. Pois é. Mas comigo (e com a maioria dos meus colegas de trabalho) não é bem assim que funciona.
A flexibilidade de horários é uma coisa muito boa. Porém, em caso de percalços e imprevistos, você acaba despindo um santo para cobrir o outro. Explico: você acordou, sentou para trabalhar. Tinha apenas um arquivo pequeno para revisar e combinou de almoçar com um amigo querido. Uma hora depois, seu cliente bacanudo entra em contato, precisando de um documento importantíssimo, de 4 mil palavras para amanhã. As opções não são muito animadoras: ou você cancela o almoço e continua trabalhando, defendendo as contas do mês seguinte; ou você vai ao almoço, preocupado com o que ainda resta a fazer, não presta atenção à conversa, indo logo embora; ou deixa rolar e seja o que Deus quiser, afinal, a noite é uma criança. De todas as opções, a primeira é a mais racional e saudável a ser escolhida (com o tempo a gente aprende que nosso rendimento durante a noite é bem avariado pelo cansaço, podendo gerar estragos na nossa reputação de bons profissionais), mas acaba sendo mal vista por familiares e amigos.
É, não são só os amigos que não entendem bem do que se trata ser autônomo. Familiares também. Meu irmão tem o talento de saber os dias em que trabalhei até de madrugada e me ligar às 7 da manhã para tratar de coisas meramente triviais, que poderiam ser resolvidas às 11h, por exemplo. É impressionante! Não erra uma! Minha mãe, por sua vez, acha que trabalhar em casa é igual a estar de folga. “Minha filha, vai na casa de fulano entregar tal coisa”, sendo que fulano mora no cafundó do Judas, e adora bater um papinho. No barato, eu perderia uma tarde inteira para fazer a tal entrega. Hello? Fora os pepinos domésticos que, “já que você está em casa mesmo”, acaba tendo de resolver: um vazamento na descarga, a máquina de lavar que deu pane, receber o montador de um móvel.
Quer dizer, não trabalho 24h por dias, mas às vezes bem mais do que a carga horária padrão — mesmo que seja picadinho ao longo do dia, entre uma banalidade cotidiana ou outra.
Portanto, amigos, amo vocês de paixão, mas preciso pagar as contas e os choppinhos que gostamos de tomar, o que significa que se um cliente repassar um serviço às 16h, com prazo apertado, nossa saída vai ficar comprometida (isso sem falar nos clientes internacionais, com diferença de fuso de 6h, por exemplo). Continuo vos amando, mas não me exijam rotina. Meu trabalho não é assim e eu gosto. Mas na terça tô livre pra pegar uma prainha de manhã, bora?
P.S.: falamos sobre as diferenças entre ser tradutor autônomo e contratado no Tradcast tempos atrás. Ouve lá 😉
Super te entendo,as pessoas acham que a gente sempre pode dar uma paradinha, dar um jeito… quando na verdade a gente sabe que precisa pegar aquele trabalho, terminar um outro e que sim não há domingo nem feriado e que às vezes sim, a gente até pode ir a praia na terça pela manhã!
Adorei o post! 🙂
Esse é meu clube (prí). Essa é a minha vida (prí). Bjs!
Tenho adotado a seguinte política: uma tarefa extra fora do trabalho por dia, não mais.
Trabalhar? Você trabalha??? Pensei que passava o dia apertando a barriga do Fellini!! =P
Sei bem o que é isso. Desde que virei frila, tenho tentado manter uma rotina de (pouco) trabalho. Tento ter hora para começar e para terminar. Isso não quer dizer que eu não fique vagabundeando no meio da semana, nem que eu não passe sábados trabalhando às vezes. Mas no geral, até que tá dando certo.
Li seus textos e fiquei com saudades. Pelo menos fiquei sabendo das novidades (casada, como assim…?). Eu bem que avisei que essa vida era punk, mas cachaça. Depois que a gente experimenta, não quer mais largar. Sucesso!
Ai, Teresa, este mundo é muito louco mesmo. Pensei muito em você ontem, ha! E eis que você vem e comenta! Twilight zone 😀
Vou mandar uma email pra gente fofocar!!!
Bjs