Trabalhar com interpretação e tradução é extremamente enriquecedor. Todos os dias vários universos são inseridos no nosso mundinho pessoal — ainda que superficialmente — graças à labuta diária, afinal nossa função é tentar compreender o cerne daquela informação e trasladar para um outro idioma da maneira mais completa possível.
Devido a alguns acontecimentos rotineiros mais recentes, me dei conta do quanto sei sobre assuntos diversos, estanques, embora haja uma série de áreas complementares. Fazem parte das tarefas pertinentes ao dia a dia de um profissional autônomo fazer a contabilidade, a cobrança, o gerenciamento de projetos, o marketing pessoal… Ao tradutor ainda cabe ter uma boa noção de informática, pois Murphy anda sempre rondando.
Até aí tudo bem (ui, ela é espertinha). O que me preocupou, porém, foi notar que me peguei pensando “mas como ele(a) não sabe disso?!” com uma certa frequência.
O óbvio não existe como uma entidade em si. Ele depende das experiências vividas, do conhecimento adquirido. Ou seja, é totalmente variado, afinal todos temos histórias de vida diferentes. É fácil de visualizar quando a gente pensa em uma criança. Os pequenos não acham nada demais ficar esperando coladinhos na porta do elevador. Até alguém abrir a porta com tudo, claro. Às vezes ouço os responsáveis dizendo “Mas menino, tu não tá vendo que a porta vai abrir?”. Não, não está, afinal ele não tem experiência para isso. Ou não tinha. 😀
Claro que é possível trabalhar com a “setorização da obviedade”, digamos assim. Eu explico. Se você for um cozinheiro, é óbvio que conhece um tomate, afinal ele deve integrar o conjunto de itens empregados cotidianamente. Portanto, o “mas como ele(a) não sabe disso?!” parece caber bem, caso alguém alegue desconhecer o fruto do tomateiro. Mas e se fosse um tomate ligúria? E mais: se fosse uma cozinheira do interior ou de algum bairro menos abastado? Pois é.
Para o nosso mercado, saber usar o Word é óbvio (e acho que disso ninguém discorda). Mas será que dá para ir muito além disso? Acredito que não. Apesar do muito que aprendemos, há todo um universo de desconhecimentos lá fora que certamente são obviedades para muitos.
P.S.:
1. Cogitando criar um mantra para ver se internalizo isso.
2. É óbvio que açaí só é bom puro e não combina com granola 😉